quarta-feira, novembro 30, 2011

Para uma canina de nome Kira.


    A Kira chegou há dois meses. Enorme pra quem tinha quarenta e cinco dias. Brava, espuleta, alegre, desastrada e comilona. E foi essa a primeira vez que eu acreditei que um cão torna-se parecido com o dono.
    Logo veio a doença e acredito do fundo da alma que tudo que podia ser feito, foi. Desde pedir carona a um estranho para levar ela às pressas pro hospital até andar com ela escondida dentro do ônibus. De tentar tirar leite da Fiona até ir a uma veterinária com ela e dizer: Olha, eu não tenho dinheiro comigo aqui, minha mãe não tava em casa e eu não sei o que fazer. E por sorte, ganhar a consulta.  De ir pra Unicruz de carona e passar a tarde inteira lá por não ter como voltar.
   Todos ajudavam, indicavam veterinários, remédios, davam chás, xaropes. E formou-se uma verdadeira farmácia da Kira. Foi muito dinheiro gasto, que não podia, mas que tirava de uma coisa ou outra e pagava os remédios, os veterinários, a internação. E não me arrependo de nada que fiz tentando salva-lá. E vou dizer, nunca vi bicho tão forte. Não chorava, não teimava, eu chegava em casa e dizia: Kira, remédio! E ela vinha, colocava a cabeça no meu colo e quando eu terminava de passar a pomada, me lambia. Era o seu agradecimento.
   O rabinho sempre balançando, sempre! Acordava-me de manhã, subia na minha cama e brincava, brincava. Não parava quieta. Quando peguei ela no hospital, pulou, lambeu, fez uma festa e eu recuperei a força de novo.
   O último veterinário disse que ela duraria no máximo 72h, mas resistiu um mês. Um mês doente, mas sem dor e sofrimento. Esse veio há dois dias, quando a doença, por fim, venceu a ciência. E mesmo assim, ela ainda brincava.
   Ninguém queria mais tentar, entretanto, continuei. Dei remédio, água, limpei nariz, dei banho, limpei baba e diziam: Tu vai ficar doente com essa cadela. Posso até ter ficado, mas não me importo de forma alguma.
   Ontem, veio à convulsão e, como sempre eu que fiz tudo por ela, segurei com força, com lágrimas escorrendo, com dor no coração, na alma. Angústia e raiva de não ter conseguido salvá-la.
  Nunca acreditei que morreria, até porque ela lutou o que pode, via-se isso, dizem que não sabem como ela resistiu tanto, mas eu digo: Amor. Amor que ela ganhou através de colos, abraços, canções de ninar, massagens e olhares ternos. Carinhos e conversas.
   Hoje, o veterinário veio e disse que era melhor sacrificar, aceitei porque era o melhor.   Ficam é claro, as perguntas: E se eu tivesse tentado mais? Se tivesse dado mais água de arroz? E se? ... Isso tortura, mas tortura mesmo era aceitar que ela vivesse nas condições em que se encontrava. Aprendi que ‘“a morte é natural, o sofrimento não”.
   Peguei-a no colo e pedi desculpa, disse que a amava e que agora ela iria para o céu dos cachorros, com a Kalina. Ela me olhou do jeito que só ela olhava, um olhar carinhoso e por fim, triste. E fiquei ali, com ela, até a última batida do coraçãozinho, até a última puxada de ar.
   A Kira, que devia ser chamada de Vitória, foi em paz, serena, deixou sua cadeira de balanço vaga, sua caminha, seu lençol, toalha, almofadas, potinhos e cobertor, mas principalmente, deixou um tesouro: com ela eu realmente aprendi o que é ter esperança.

Um mês. 










2 comentários:

Ana disse...

Que lindo, lembrei muito de uma história minha com esse post que achei pelo facebook... a Gabi era o meu tesouro, era minha filha e minha mãe. Quando eu chorava, ela vinha no meu colo, me olhava e miava um miado semelhante a um choro triste... quando eu ia viajar, ela me procurava em todo canto da casa. Eu tinha a gata desde os meus oito anos, em 2009 ela ficou MUITO doente, todos os veterinários também falaram que ela ia morrer, mas EU, igual a ti, fui a única que não desistiu. Ela tinha água no pulmão! Mas depois de muita luta ela ficou como se nada tivesse acontecido (só não podia correr/brincar muito/pular muro). Me dói o coração quando penso que eu tive que me desfazer dela, DÓI MTO. Meu tio de brasília chegou aqui em casa e disse que o filhinho dele tinha alergia a gatos, minha vó mandou a Gabi pra uma fazenda (de onde ela fugiu). Imagino que ela tenha se virado, tenha lutado sozinha, talvez ela até tenha achado que ia conseguir encontrar o caminho que a levasse até mim novamente. Agora as lágrimas caem aqui... e a saudade se fará presente para sempre: Sete anos de amor e toda a vida de saudade.
Entendo muito bem o que tu passou com a Kira, que bom que existem pessoas que tenham esse imenso carinho por uma companhia verdadeira.
Abração
Ana

Estefânia Corrêa Borela ★ disse...

A minha pegou cinomose porque trocaram as datas da vacina. Ainda acho que se eu tivesse dito para o veterinário tentar mais um pouco, ela teria se salvado, entretanto, sofrido muito. Foi muito difícil tomar essa decisão,chorei três horas seguidas e depois peguei ela mortinha e abracei... Dói, ainda mais que ela era um consolo na minha vida... É ruim quando temos um bichinho e ele vai embora, né?!