"Diga a verdade, doa a quem doer."

"Nós teríamos sido felizes". É isso que meu coração tenta enfiar goela abaixo todo dia, todo o segundo quando algumas coisas cotidianas não saem como o previsto.
Foi a partir disso que compreendi ser mais fácil procurar aconchego no que poderia ter sido, mais fácil atravessar os percalços da vida com algumas memórias que ficaram... Mais fácil ser feliz com os risos de quem passou. 
Me dei conta também de que apesar de ser mais fácil, toda a felicidade criada diante disso é traiçoeira, sempre vem em par com o choro desesperado, o vazio que somente o que agora é inexistente poderia preencher.
O que aprendi também -um dos aprendizados mais valiosos e doloridos que fiz na vida- é não ser justo perder tempo do dia (já tão apertado) para pensar em quem resolveu ir embora, deixando de abraçar a felicidade junto de quem está ao seu lado. 
Pode ser que o toque da pele tenha sido mágico, que o andar de mãos dadas e os abraços apertados tenham causado uma sensação de segurança nunca antes experimentada. Mas de que vale tantos sentimentos bons se estes foram clandestinos? Do que vale tanta beleza sem amor? 
Apesar de complexo, doar as horas do nosso dia a quem ficou porque quis, a quem não foi embora quando mais precisamos, àquela pessoa que nos segurou apesar de todas as mágoas que já carrega por culpa nossa, vale a pena.
Bonito mesmo é o real, o dividir as tristezas e alegrias, e continuar junto "na saúde e na doença", "na riqueza e na pobreza". Bonito é ter alguém que conquistou o espaço na nossa vida, na nossa família e no coração da forma mais genuína possível: com a simplicidade, com a coragem de mostrar cada parte da alma, com o sorriso sincero. 
Prefiro entregar meu precioso tempo ao que tem existência física, a quem pode me decepcionar, abrir feridas que vão doer horrores, mas que serão causadas por quem teve a audácia de ficar. 
E, contrariando tudo o que me ensinaram, sorte mesmo é ter alguém que me magoe, mas que me ame sem precisar de razões, sem esperar grandes feitos em troca.
Aliás, que você também tenha alguém que te fira por ser exatamente o que ele é: alguém que falha. Mas que ele seja o mesmo que te cura,  por um motivo que deve ser 'de uma sinceridade inigualável': amor.