Fazia frio, daqueles que congelam até a alma. Pegou o livro e foi em frente à lareira. Junto com as frases começaram a vir as lembranças.
Ele cheirava a baunilha e céu. Uma mistura heterogênea desconhecida, com ingredientes tão distintos. Todavia, nada era tão perfeito. Tinha olhos cor de esmeralda e uma boca tão rosada,[ que provavelmente teria sido desenhada por anjos; e era assim, tão raro e tão dela. Ela também era dele, completa, porém negava o amor que havia dentro de si. Era como Cathy: todas as coisas que ele sentia ela também as dominavam. Dor, alegria, tristeza, raiva. E ele interpretava bem o papel de Heathcliff. Sentia um ódio aparente, estupidez fazia parte de si, só que como quem contraria todas as regras do roteiro original, mantinha um olhar doce e terno sobre ela.
Todos os pensamentos que nasciam em sua mente tinham algo dele. Um gesto, um riso, um grito.
Agora tudo era silêncio. Dor. Ódio.
No entanto, dentro de si nada mudara, mesmo privando-a de seus abraços diários, da alegria que irradiava do seu sorriso ou do gosto da sua boca, continuaria sempre sendo a coisa mais importante que ela haveria de abraçar o resto da vida, como castigo ou prova de seu crime. Mas que crime era esse? O fato de amar tanto a ponto de não saber lidar com isso? Ou fazer-se em lágrimas para vê-lo sorrir?
Não desejava ter o mesmo fim de Cathy e sei que você já conhece toda a história e não deseja ter o mesmo de Heathcliff, então diga-me como se lida com isso? Ensina-me a matar ou levanta-me. Mostra-me a origem ou o quê desse amor, que é tão forte e tão alma. Não deixe que me torne uma racional e não se torne assim, tão frio.
Sei bem que fere como facas que atravessam o peito e rasgam, contudo digo-te que só Deus sabe o quando me rasga! Tornou-me melhor e em troca disso ganhou desgosto.
Era outra separação, e embora já houvessem tido outros fins, este parecia definitivo.
Dilacerava ter que viver na ausência, mas jamais deixaria que ele se fosse completamente. Seria suicídio, loucura. Estaria perto sempre, cuidando, oculta. Cuidaria até que alguém viesse e abraçasse a sua alegria. Então daria adeus.
Se caso se perguntas por que ela desistiu tão fácil, pergunte a si mesmo se alguma vez na vida já esqueceu que tens um coração...
“Assim ele nunca saberá como eu o amo. E isso não porque seja belo, mas porque ele é mais eu do que eu mesma. Seja de que forem feitas nossas almas, a dele e a minha são as mesmas.”
Fechou o livro, decidida a nunca mais abri-lo.

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