Eu não o tinha mais. Alguém quase
criança de bochechas rosadas como um bebê, olhos curiosos, boca pequena, mãos
macias e pele branca como neve, que ao contrário dessa, era quente e me causou
queimaduras cujas cicatrizes ainda são visíveis.
Em todos aqueles dias, nunca encontrei
um defeito que fosse naquele rosto de linhas perfeitamente desenhadas que,
creio eu, deve ter sido feito cuidadosamente por anjos. Quem mais poderia fazer
alguém tão lindo?
Era assim que eu pensava, desde o
momento em que meu coração bateu por ele. Lembro como meu cérebro entrou em
colapso por não entender como, incrivelmente, conseguia ser mais lindo do que
qualquer outro. Não entendo como meu coração não saiu boca a fora quando olhei
naqueles olhos e me perdi como nunca acontecera até então. Era hipnotizante, ao
contrário de agora que é terrivelmente agonizante.
Se acreditarmos que sua face fora feita
por anjos, então sua alma fora tecida por demônios, ou qualquer outro ser
contrário ao bem.
É como se sua aparência, quase
fascinante, fora feita para esconder o que se tem por dentro: uma alma vazia e
um coração doentio. Como se os anjos tivessem aprisionado sua maldade em uma sublime
beleza.
E foi por essa coisa que me apaixonei.
Coisa... Soa tão feio, mas ouso chamá-lo assim.
Sua doença penetrou em mim em forma de
beijo e foi aniquilando tudo o que havia de bom. Cegou e roubou-me tudo
que possuía. Talvez ele deva ser algum tipo de ser que se alimenta de almas.
Talvez sua força esteja no sofrimento
alheio, na minha dor que transparece pelos meus olhos cansados.
Ou talvez eu esteja somente
enlouquecendo com essa dor injetada em mim por mãos de um anjo disfarçado.
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