segunda-feira, agosto 30, 2010

Metade anjo. Metade demônio - Parte I


Eu não o tinha mais. Alguém quase criança de bochechas rosadas como um bebê, olhos curiosos, boca pequena, mãos macias e pele branca como neve, que ao contrário dessa, era quente e me causou queimaduras cujas cicatrizes ainda são visíveis.
Em todos aqueles dias, nunca encontrei um defeito que fosse naquele rosto de linhas perfeitamente desenhadas que, creio eu, deve ter sido feito cuidadosamente por anjos. Quem mais poderia fazer alguém tão lindo?
Era assim que eu pensava, desde o momento em que meu coração bateu por ele. Lembro como meu cérebro entrou em colapso por não entender como, incrivelmente, conseguia ser mais lindo do que qualquer outro. Não entendo como meu coração não saiu boca a fora quando olhei naqueles olhos e me perdi como nunca acontecera até então. Era hipnotizante, ao contrário de agora que é terrivelmente agonizante.
Se acreditarmos que sua face fora feita por anjos, então sua alma fora tecida por demônios, ou qualquer outro ser contrário ao bem.
É como se sua aparência, quase fascinante, fora feita para esconder o que se tem por dentro: uma alma vazia e um coração doentio. Como se os anjos tivessem aprisionado sua maldade em uma sublime beleza.
E foi por essa coisa que me apaixonei. Coisa... Soa tão feio, mas ouso chamá-lo assim.
Sua doença penetrou em mim em forma de beijo e foi aniquilando tudo o que havia de bom. Cegou e roubou-me tudo que possuía. Talvez ele deva ser algum tipo de ser que se alimenta de almas.
Talvez sua força esteja no sofrimento alheio, na minha dor que transparece pelos meus olhos cansados.
Ou talvez eu esteja somente enlouquecendo com essa dor injetada em mim por mãos de um anjo disfarçado.

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