Caminhou pelas ruas cheias sem querer olhar nos olhos de ninguém, sem querer ver o céu. A cada esquina que dobrava, sentia o cheiro dele.
Não queria acordar, pudera dormir durante dias até que algo mudasse. Vivenciou um dia totalmente estranho... Não sabia o que fazer para que isso parasse. E pensou em tanta coisa... Deitar na grama molhada de sereno, olhar o céu, mas olhar o céu faria com que abrisse uma janela de lembranças muito bem enterradas em sua mente. Só sabia que tinha algo doendo dentro dela, como se todas as coisas que já doeram um dia estivessem doendo juntas, dilacerando, rasgando.
Doía tanto a cabeça que o enjoo já era cotidiano. Uns chamariam de estresse, ela chamava de saudade.
Passava dia, entrava semana e nada mudava, a maior prova disso era que as páginas do seu diário estavam repletas de sangue. Tinha somente vontade de chorar, e o fez, talvez mais do que uma pessoa normal choraria em meses. Havia suportado tantas desilusões que só queria abrir o peito, deixar as lembranças irem embora e matar o que ainda sobrevivera. São dias assim que podiam muito bem esmagar uma pessoa e justo nesse dia parecia que todas resolveram a abandonar. Todas as coisas boas. Perguntava-se quando foi que tropeçou, onde esqueceu a alegria, a paz e não encontrava respostas.
Sabia cada letra do significado da palavra dor no dicionário, mas parecia tão pouco, parecia um puxão de orelha comparado a dez facadas. E ela sentia onze, doze, não sabia, desde quando se pode explicar dor com números? Com palavras? Não se explica com coisa alguma. Mas tentava, em relutância, explicar tudo.
Repetia o nome dele dezenas de vezes, lembrava-se do modo como ele atendia ao telefone, da voz, da temperatura exata da boca dele. E era tão lindo ao ponto de até sua mãe achar isso. Dizia: “Minha filha, eu sinto saudade daquele rosto dele, tramposo ele é, mas dá uma saudade.” Como se ela não soubesse disso, como se não sonhasse com aqueles traços toda vez que colocava a cabeça no travesseiro, onde guardava uma foto dele e a apertava contra o peito quando doía demais.
Tudo na vida dela era ele, tudo havia sido ele, todas as vezes que mencionou a palavra amor o nome dele saia junto. Todas as coisas boas eram sinônimas a ele, e já era há tantos anos assim que não tinha esperança mais que mudasse... Foi quando percebeu isso que descobriu que se confusão já era parte dela, ele também.

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