sexta-feira, outubro 22, 2010

Metade anjo, metade demônio. - Final


Ninguém falou que ia ser fácil, muito pelo contrário, disseram que essa cirurgia de abrir o peito e arrancar todo o amor que ainda tenho aqui, iria ser torturante. Mas como uma adolescente teimosa tinha certeza que não poderia doer mais do que continuar com tudo aqui dentro. Então aceitei e fiz. Peguei a faca, cravei no peito e o abri. E meu amor, a dor foi tanta que eu perdi a consciência. As tuas lembranças, o teu cheiro e o teu gosto estavam tão lá no fundo da minha alma, que achei que não iria suportar. Mais uma vez pensei que morrer seria uma boa ideia, eu iria te encontrar em outro lugar. Bêbada de dor cai no chão e fiquei dias ali sangrando, com a ferida aberta, dias agoniando e deixando sair tudo que ainda tinha de ti. E cada vez que uma parte saia, doía com uma nova faca no peito. Mas eu tinha de aguentar, por mim. Ninguém viria me ajudar ou procurar por mim. Era só eu e a minha dor. Finais assim são difíceis porque a gente não sabe o que vem no próximo piscar de olhos, não sabe se vai haver a próxima respiração.
E, assim, as memórias foram saindo, como pontinhos escuros, misturados com sangue e com novos gritos, que insistiam em sair garganta a fora. Entretanto, a minha fé gigante riu da dor e racionalmente lembrei que essa era a minha luta, que essa não era uma dor de derrota, que era uma dor de vitória. Lembrei que não haveria mais um anjo-demônio a perturbar a harmonia dos meus dias e a me dilacerar só com os olhos. E com um último grito, a última gota de amor saiu. Tinha acabado, a minha guerra estava vencida. E não havia mais dor. 
Continuação:

"Deixe que a água lave minha alma levando para longe toda a dor que me foi injetada por mãos de um anjo disfarçado."  

Um comentário:

Anônimo disse...

profundo