Despertei tarde da noite com uma voz doce, compreendi que seria um sonho, coisa da minha cabeça cansada da rotina, “estou maluca, ando precisando dormir melhor”, pensei. Aliás, de todas as coisas na vida, ouvir aquela voz doce que causava em mim um efeito analgésico era a última coisa que esperava. Mentira! Eu esperava sim! Aguardava como um doente pela cura, um cego que já tendo visto as cores da vida, ansiava por revê-las. Esperava, mas sem esperanças, doía menos.
Virei-me na cama e o vi, lá estava ele em carne, osso, perfeição e cabelos claros. E claro, a sua voz que me enlouquecia. Resmungava com a televisão.
-Não tem o 69?
-Não, vai só até o 61.
Sem boa noite, sem senti sua falta, só aquela frieza costumeira. Atirou-se na minha cama, como quem não quer nada e creio que desta vez, nem eu ou ele esperávamos alguma coisa. E pensei que as melhores coisas da vida acontecem assim, mas realmente nada aconteceu, nada além de beijos, abraços e silêncio. Nenhuma promessa de volta ou de amor. Nenhuma palavra de carinho, e pela primeira vez, essa frieza me aconchegou.
Adormecemos em meio ao silêncio, de mãos dadas e, depois de muito tempo, eu dormi feliz.

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