segunda-feira, agosto 22, 2011

Insensatez




Embora não estivesse aquele calor que nos faz desidratar a cada cinco minutos e o sol não queimasse irritante na pele, era verão. O dia que se seguiu era inverno, com um vento de cortar a pele e não deixar que sentíssemos os dedinhos. Não havia trocado de estação e não sei que fenômeno climático ocorreu ou que parte do meu cérebro começou a delirar, o fato é que foi esta a primeira vez que a tua frieza me encantou.
Éramos jovens demais, não sabíamos tudo o que passaríamos futuramente e creio que se soubéssemos o que nos custaria teríamos deixado morrer. Mas inocentemente, como duas crianças que aceitam uma bala, aceitamos o amor. Nascia o sentimento que viria a ocupar as páginas do meu diário, a vida e todo o meu ser por anos afins, até me sufocar.
Ao contrário do que dizem, o inicio não foi nada calmo, você me abandonou alguns meses depois usando desculpinhas tão baratas que me fizeram sentir nojo.
Foi a primeira vez que te odiei.
Então tive que aprender a viver sem o que eu julgava impossível e céus! Nada dói tanto, dilacera tanto. Perdi de vista os teus olhos por dias e passaram-se semanas, meses, até que desesperadamente pedi por tudo que voltasse. A paz voltara a imperar, coisa que sempre ocorria pós despedidas e adeus. Tudo voltava a ser doce, quente e cheio de luz. Completo.
Acho desnecessário descrever aqui todos os fins, é muita dor para ser relembrada e que demorou tempo demais para ser diluída. É também um pouco de falta de coragem, medo de lembrar e não conseguir mais esquecer, de querer ter para sempre e não poder. Basta dizer que cada palavra tua me rasgava, abria uma fenda na minha alma, os dias arrastavam-se, o tempo não passava e tudo me levava direto ao seu rosto, aos teus olhos, e sabes bem que não canso de falar deles.
Foram anos tortuosos e cheios de tombos, contudo, valeu a pena pelos últimos tempos que se resumem em algumas palavras: cores, sabores, beijos e falta de ar. Foi uma felicidade plena em meio ao silêncio perturbador, foram sonhos realizados e pôr-do-sol. Leituras silenciosas e risos, cócegas, sono e todas as palavras que se associam a alegria. Até que eu quis provas. Eu quis jogar sem saber que tu não entrarias no jogo e não entenderia. Eu te dei todas as respostas e tu não às compreendeste. Esse foi o nosso fim. O último. 
Sei bem que não entendes porque tantas vezes deixei o amor ir embora por medo ou essa contradição ambulante que, quase sempre, sou. Sei que não entendes porque te deixei...Mas explica-me, quando o amor acaba a amizade também sucumbe? Não havia me prometido tantas vezes que isso seria para sempre? Mas que diabos de para sempre é esse? Foi só para ouvir que foi o melhor presente já a mim concedido?
Porque teus olhos não olham mais nos meus?  As esmeraldas extinguiram-se?
Sei bem o quanto fui cruel e contra tudo o que disse e senti e pensei. Não hei de implorar-te nada dessa vez, nem respeito, a única coisa que peço toda noite é que me entendas, da forma que for uma única vez nessa tua vida. Não tenho o direito de pedir perdão, mas... Perdoa-me, um dia tu há de compreender que não fiz por mim.
Olho pela janela enquanto o vento bate no meu rosto lavado de tristeza, revejo as ruas que tantas vezes andei para ir até você e, se eu fechar os olhos, revejo cada pedra em que tropecei, cada esquina em que lhe sorri e te beijei.
Juro por todas as coisas sagradas que se houvesse um pingo a mais de insanidade dentro de mim, iria toda noite ao teu encontro. Ando movida a saudade e nostalgia, e misturadas à valsa que a vida me impôs, levam-me a loucura.
Esse amor doentio chegou ao fim, mas garoto, essa tua crueldade ainda me encanta e a tua beleza exótica e os elementos tão distintos que compõem o teu ser são a resposta de cada suspiro meu e ainda hão de ser motivo de muitas outras histórias.

Nenhum comentário: